Num microcosmo com centenas de espécies de plantas, infraestruturas de irrigação e arquitetura de pedra no meio da cidade, o que se escuta? A instalação Passagem explorou modos de escutar esta ecologia por meio de gravações de campo e modulação de fenómenos acústicos. Pretendeu-se potenciar uma escuta ativa, física e imersiva, em sintonia com o meio ambiente e com nós mesmos. Passagem criou um percurso com dois modos de experiência diferentes e inter-relacionados, envolvendo o público em dois tipos de variação sensorial:

– O túnel – uma intervenção num espaço existente – uma instalação sonora em ressonância com o espaço acústico de uma passagem;

– O zome – a criação de um novo espaço arquitetónico – uma instalação de arquitetura aural como um momento relativamente tranquilo para sintonização.

Com estas variações sensoriais pretendeu-se chamar a atenção da audiência para as forças subtis presentes no local, que passam geralmente despercebidas. Esta intervenção potenciou a presença da água (cascatas, irrigação, gotas de água, canais de água) através de gravações de campo, que foram amplificadas no espaço acústico de um túnel de pedra, uma passagem fria, escura e húmida. As forças vibratórias da água transformaram-se num rugido profundo e modularam frequências de ressonância específicas. O túnel tornou-se numa passagem imersiva e a ampliação do som ambiental produziu uma sensação de fisicalidade, entrando em vibração simpática com a audiência. Como extensão, o zome foi construído num local estratégico, onde o caminho que saía do túnel se dividia em dois. Abraçou a saída do túnel, envolvendo o público numa outra forma de experiência. O zome ofereceu um abrigo aconchegante, seco e quente, para voltar a experiência para o interior de si mesmo.

 

Photos Vera Marmelo. Sound recording Mestre André.