Na tragedia grega o khoros desempenha funções que nos chegam da história como voz de um grupo não individualizado de pessoas que procura dar informação e situar na peça o espectador, por forma a não o perder no progresso da narrativa. Chega-nos em textos o que diz, mas sabemos também que seriam dançados e cantados. Nesta instalação sonora deixamos a máscara, prosopon, e o som da voz operar o como é dito, recorrendo às mesmas técnicas usadas pelo coro ao qual se retira o corpo dançante, deixando uma série de cabeças animadas que sustentam o que o coletivo uniforme diz, uma voz cidade que tornam o espectador passante, alvo de sua contracena, que se vê agora como ator sem texto, e é a este que se dirige o som, a sua voz multiplicada e dirigida. O coro projeta as vozes em simultâneo, contrapontualmente e também em nuvem, um processo estocástico que produzem uma experiência sonora e de sentidos textuais. O texto usado é retirado da Electra de Sófocles, sobretudo a parte do coro, formado por mulheres micénicas que questionam a dor da protagonista, acabando por expor o sexismo presente na sociedade grega.

 

Photos Vera Marmelo. Sound recording Mestre André. Video Joana Linda.

 

* Enquanto agentes culturais, sentimos na pele a responsabilidade de continuar a dar espaço à criação contemporânea e contribuir para atenuar os efeitos avassaladores que a pandemia teve no sector cultural, profundamente massacrado com esta situação. Por isso, o Lisboa Soa abriu uma open call para artistas residentes em Portugal para criação de instalações e esculturas sonoras adaptadas ou criadas especificamente para o festival, tendo atribuído seis bolsas de 1500 €.

O tema que deu o mote a esta chamada foi A Viagem.