Com a composição já devidamente postulada no lindíssimo disco das Volúpias, onde trabalhou um formato clássico de bateria, saxofone e contrabaixo numa linguagem sem tempo mas muito sua, Gabriel Ferrandini tem dado passos corajosos na sua afirmação a solo, terreno sempre arriscado e poucas vezes premente nos domínios da percussão. Descartando qualquer tipo de virtuosismo estéril, mesmo sabendo de antemão da sua técnica prodigiosa, Ferrandini alavanca a sua bateria e percussão até um estado de confluência abençoada entre o ritmo, a textura e a harmonia. Mais próxima de alguma música contemporânea ou electro-acústica do bem do que propriamente do jazz, embora carregando com ele essa ideia de liberdade e vida, a música solitária de Ferrandini explora e abre-se ao lirismo das peles, pratos e demais matéria através da amplificação, do processamento electrónica, da gestão do silêncio e do equilíbrio no fio da navalha entre a contenção e o fogo. Com momentos chave como a apresentação de ‘Tudo Bumbo’ ou a sua peça ‘Rosa. Espinho. Dureza’ a marcarem pontos nessa ascensão, Ferrandini prepara agora o lançamento de um álbum nascido dessa vontade. Retrato possível para a posteridade de uma faceta pessoalíssima conhecida nos palcos.
Photos Vera Marmelo. Sound recording Mestre André. Video Joana Linda.